Uma vez jantei na casa de uma tia natureba e o prato principal era carne assada com batatas, servido com molho de abacaxi (é natureba mas é chique, tá?). Quando soube do menu perguntei: "Tia, você, comendo carne?". E ela respondeu: "De vez em quando como sim, e essa é orgânica... menos mal!".
Peraí! Carne orgânica? Em JOÃO PESSOA??? Ela me explicou que naquele supermercado caríssimo que tem na Av. Epitácio Pessoa (essa é para quem mora aqui em JPA) a gente encontra patinho orgânico, sim. O prato estava uma delícia, então resolvi conferir que carne era aquela.
Bem, o fato é que a tal carne existe mesmo, e o preço é equivalente ao preço de uma carne não-orgânica.
Algumas pessoas acham que é contraditório comer carne e comer orgânico (não estou falando da palavra "orgânico" na sua definição legal, mas sim no seu sentido filosófico). Depois de muito refletir a respeito, acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Comida orgânica é aquela que, em seu processo produtivo, deveria respeitar todos os processos naturais de ciclagem de nutrientes, e energia, e relações ecológicas entre espécies. Incluindo aí a relação do homem com as espécies que o alimentam. O gado de corte pode ser produzido de forma socialmente justa e ambientalmente correta. Pode também ser criado de forma a respeitar as necessidade do animal e terminar com um abate humanizado. O que mais um boi quer além de pastar livremente capim fresquinho pela vida toda? E do que mais o capim precisa além de ser comido (e ter suas sementes propagadas) por ruminantes? Isso não é respeitar as leis da natureza?
O livro "O Dilema do Onívoro", do Michael Pollan, mostra claramente que para ser ético e ecologicamente correto na hora de comer, devemos pensar muito mais na forma como nossos alimentos são produzidos do que no reino da espécie que colocamos no prato (reino animal X reino vegetal). Eu concordo com isso. Acho que devemos comer com bom senso.
Desculpem a viagem, mas ainda estou sob os efeitos da leitura do "Dilema" (já terminei de ler o livro faz dois meses e ainda penso muito no que li). Recomendo pra todos que se importam com o que botam no prato.
Então! Voltando ao nosso patinho, a primeira vez que o preparei resolvi adaptar uma receita daquela revistinha Claudia Comida e Bebida de patinho recheado. Digo adaptar, e não fazer, porque a receita original levava ricota no recheio. Vejam como ficou a receita do meu recheio:
Recheio para carne recheada
Ingredientes:
6 fatias de pão de forma sem casca
Leite de soja não adoçado
1 col. (sopa) de mostarda
1 ou 2 talos de salsão picado
1 cenoura pequena ralada
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto
Como fiz:
Rasgue as fatias de pão em pedaços pequenos. Acrescente leite de soja suficiente para formar uma massa úmida, mas não tão molhada. Adicione a mostarda, o salsão picado, a cenoura ralada e misture bem. Coloque sal e pimenta a gosto.
Para fazer o patinho recheado, siga as fotos: com o recheio pronto, corte a peça de patinho orgânico em bifes (o tamanho não importa, na receita original pede-se para cortar uma peça de 1 quilo num bife só, recheia-se, e enrola-se a peça num pedaço único. Eu prefiro fazer pequenos enroladinhos, como na foto). Disponha o recheio dentro das fatias de bife e enrole-as com cuidado. Prenda o enrolado com palitos ou com barbantes, como na foto.
Doure os bifes enrolados na manteiga numa panela funda. Quando estiverem bem dourados, cubra-os com molho de tomate. Deixe cozinhar em fogo baixo até a carne ficar bem macia. Tome cuidado para o molho não grudar no fundo da panela. Se o molho secar demais, acrescente um pouco de água, ou mais molho. Quando estiver cozido, coloque sal a gosto. O recheio acaba "escapulindo" um pouco da carne enrolada e engrossa o caldo. Delícia!