Com licença, Ruy Castro, mas adorei!
Pesquisa de cientistas brasileiros,
divulgada internacionalmente, comprovou que o cérebro humano só se diferenciou
do dos outros primatas quando o homem aprendeu a cozinhar. Mas, atenção -não
significa que você tenha um cérebro superior ao dos seus amigos apenas porque
às vezes cozinha um macarrão para eles no seu apartamento.
A pesquisa se refere ao princípio do uso do fogo pelo homem, entre 600
mil e um milhão de anos atrás. Naqueles tempos pré-internet, uma novidade
levava séculos para viajar de uma caverna a outra, mas o fogo foi algo tão
espetacular que se disseminou como um viral. Os alimentos cozidos, mais fáceis
de mastigar e digerir, permitiram maior absorção de calorias, levando ao
aumento da massa encefálica e do número de neurônios do cidadão. Ato contínuo,
ele desceu da árvore e começou a ler Kierkegaard. Bem, deu no que deu.
A ideia é a de que, enquanto passava a folhas, sementes, raízes e outros
alimentos hoje preconizados pelos naturebas, o homem não consumia calorias
suficientes para uma produção decente de neurônios. Além disso, o esforço de
mastigação requerido por aquela dieta crua fazia com que não tivesse tempo para
mais nada. O cozimento dos alimentos deu-lhe horas livres, que ele usou para
desenvolver sua vida social - como sair para almoçar com a turma, do que
resultaram ainda mais neurônios.
De repente, o homem se viu até com mais neurônios do que precisava - 86
bilhões, pela última contagem. E, de certa forma, até hoje é assim, razão pela
qual as pessoas se dedicam a apagar alguns milhões de uma sentada, tomando
porres, queimando fumo ou lendo "Cinquenta tons de cinza".
Os orangotangos e os gorilas, ex-colegas de turma do homem, continuaram
com a sua dieta básica e ficaram para trás, repetindo ano. Mas, na sua
modéstia, não estão se queixando.
Texto de Ruy Castro, publicado no jornal Folha de São Paulo, na segunda-feira, 29 de outubro de 2012.
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