10 de outubro de 2010

O improvável

Eu fiz um cheese cake.


Isso mesmo que você viu: aquela torta a base de queijo e geleia. Está pensando que eu enlouqueci de vez? Então deixe-me explicar. Essa torta foi todo um processo de desconstrução de meus paradigmas. Por muito tempo me lamentei porque nunca mais na vida voltaria a comer cheese cake. Essa sempre foi uma de minhas sobremesas favoritas, e depois que desenvolvi alergia à proteína do leite, me conformei em dizer adeus à sobremesa. Mas... no fundo, no fundo, sempre achei que teria um jeito não muito deturpado de fazer uma versão sem laticínio. Como poderia fazer cheese cake sem usar uma grama de laticínio?



Aproveitei a transgressão e mudei de receita de massa também. Aquela receita de massa que uso para fazer as quiches costumam ser A receita de massa de torta aqui em casa. Todas as vezes que tentei usar outra receita, a massa ficou dura demais, ou seca, ou simplesmente ruim, enfim, um fiasco generalizado. Pra não errar, resolvi usar aquela receita sempre, inclusive em tortas doces (é só acrescentar duas colheres de sopa de açúcar na farofa úmida). Mas dessa vez resolvi arriscar. Usei como ponto de partida uma receita de cheese cake do livro "O livro essencial da cozinha vegetariana" da editora Paisagem. Diga-se de passagem, esse livro é lindo, cheio de receitas originalíssimas.

Da receita original aproveitei quase à risca a massa. Achei a ideia de colocar aveia em flocos na massa simplesmente demais (a minha cara, não?). E o resultado final ficou muito bom mesmo. Em relação ao recheio, a receita original pede queijo cremoso, ricota, sour cream, eita! Então resolvi misturar queijo de iogurte e creme de leite de soja pra ver no que dava. O resultado, só comendo pra acreditar. Depois de assada, obtive uma massa aerada, macia, firme. Enfim, vejam a receita!




Cheese cake de soja

Ingredientes da massa:

125g de manteiga
100g de aveia em flocos finos
100g de biscoitos doces triturados (eu usei aqueles de coco, retangulares, que tem um coqueirinho no biscoito, sabem qual é?)

Como fiz a massa:

Derreta a manteiga numa panelinha. Misture a aveia, o biscoito triturado e a manteiga derretida até obter uma farofa úmida. Forre o fundo e as laterais de uma forma de 22 cm de diâmetro com a farofa, pressionando com os dedos. Reserve.




Ingredientes do recheio:

200g de queijo de iogurte de soja feito assim (essa quantidade é obtida a partir de 1 litro de iogurte)
1 caixinha de 200g de creme de leite de soja
4 col. (sopa) de açúcar
1 ovo
1 col. (sopa) de farinha de trigo

Como fiz o recheio:

Bata na batedeira o queijo e o creme de leite juntamente com o açúcar. Quando o açúcar tiver se dissolvido inteiramente e o creme estiver bem fofo, acrescente o ovo. Bata mais um pouco e, sem parar de bater, acrescente a farinha.

Para montar a torta:

Despeje o recheio por cima da massa da torta. Asse em forno pré-aquecido a 180°C por meia hora. O cheiro da massa assando é indescritível... Desligue o forno e deixe a torta esfriar dentro do forno. Quando a torta estiver fria, coloque geleia do sabor de sua preferência por cima delicadamente, e leve à geladeira para gelar. Eu usei geleia de framboesa, clássica.



Moral da estória: nunca desista de lutar pelo que você quer muito!


3 de outubro de 2010

Molho de tomate


De vez em quando, os jornais divulgam resultados de pesquisas sobre a qualidade de certos grupos de alimentos. Alguém aí já leu sobre a qualidade dos molhos de tomate? É de arrepiar os cabelos. Marcas renomadas são as primeiras que aparecem nas listas negras: muito sal, pouco tomate, muito conservante, asa de barata, irc! Por causa disso, de uns tempos pra cá resolvi comprar passata de tomate no lugar dos molhos de latinha. As passatas são feitas com poucos ingredientes além de tomate. Geralmente são importadas e vem em garrafas de vidro. E quando tenho tempo, e consigo um bom estoque de tomates orgânicos (o que é raro aqui por essas bandas), eu mesma resolvo fazer molho de tomate caseiro.
Esse final de semana eu ainda estava com mais de um quilo de tomates maduros dentro da geladeira, que comprei há 15 dias daquele meu colega agricultor (aquele das bananas e da macaxeira). Esperei eles ficarem bem vermelhinhos e na hora certa botei na panela. Dessa vez, tudo que usei era orgânico. Pra fazer molho, não tem mistério. Basta tempo e carinho (mas veja bem, muito carinho e pouco tempo não resolvem...). Vamos lá.



Molho de tomate caseiro

Ingredientes:

1 quilo de tomates maduros
1 cenoura grande ralada
1 cebola média picada
2 dentes de alho picados
1/2 pimentão picado
1/2 pimenta de cheiro
Azeite
1 pitada de açúcar
Sal, pimenta, manjerona, páprica doce e picante a gosto

Como fiz:

Coloque uma panela grande com água no fogo. Quando a água ferver coloque os tomates limpos inteiros dentro da água. Espere um ou dois minutos e retire os tomates da água com uma escumadeira. Deixe os otmates esfriarem e retire a casca dos tomates com a ajuda de uma faquinha. Vá fazendo isso em cima de uma travessa, para recuperar o caldo que escorre dos tomates na hora de descascá-los. Corte os tomates descascados em pedaços grosseiros.
Numa panela, refogue a cebola, o pimentão, a cenoura e o alho. Quando tudo amolecer, acrescente os tomates picados e o caldo. Misture tudo muito bem e deixe refogar em fogo baixo por alguns minutos, em panela tampada.
Acrescente o açúcar, misture bem. Acrescente a majerona, a pimenta de cheiro e as pápricas, misture bem. Deixe refogar mais um tempinho, na panela bem tampada. Se o caldo secar demais, acrescente água quente aos poucos.
Quando o tomate estiver bem desmanchado, coloque sal e pimenta a gosto e desligue o fogo. Você também pode usar outros temperos, como orégano, manjericão, tomilho, cheiro verde... Use sua imaginação!



Para guardar o molho, escalde vidrinhos com tampa e deixe-os secar em cima de um pano de prato. Coloque o molho nos vidros secos e tampe bem. O molho pode ser congelado.



2 de outubro de 2010

Quiche de fraldas


Outro dia foi o chá de fraldas de minha prima. Todas as mulheres da família fizeram alguma coisa. Pra mim, evidentemente, sobrou fazer uma coisa bem francesa, uma quiche.
Fiz uma quiche com recheio de alho-poró e bacon. Só um pouquinho de bacon, sério! Para a massa e para a cobertura usei as mesmas receitas que a dessa quiche aqui. Pro recheio, vejam como fiz:



Quiche de alho-poró e bacon

Ingredientes:
2 alhos-porós
um pedacinho de bacon (30 gramas) picado
1 cebola pequena picada
azeite
sal e pimenta a gosto

Como fiz:
Corte o alho-poró em fatias finas e lave-as em água corrente. Refogue a cebola picada em azeite. Quando a cebola estiver molinha, jogue o bacon picado e deixe dourar. Por fim, acrescente o alho-poró e refogue até amolecer. Coloque sal e pimenta a gosto. Reserve.
Pra finalizar a quiche, faça como a receita de antes.

O detalhe é que tinha combinado que levaria uma quiche com creme de leite de vaca mesmo, mas resolvi boicotar o combinado de última hora e fiz com tudo de soja. Ninguém percebeu o detalhe e a quiche foi aprovadíssima por todos!

Detalhe na mesa de doces, feita pela irmã da grávida. O blog dela está aqui. O melhor é que Gigi faz quase tudo com leite de vaca ou de soja!

27 de setembro de 2010

Sim, tesouro!


Eu conheço uma pessoa que é muito especial. Dessas que são iluminadas e não sabem. Dessas que não fazem o menor esforço pra agradar, mas agradam. Dessas que vivem a vida plenamente, sem reclamar. Ela manda fotos lindas de bichos e plantas para os amigos, desabafa na internet, não come carne. Tem duas filhas lindas, bem criadas. E eu tenho o privilégio de ser amiga dela. Ela me manda presentinhos pelos Correios, e eu tento retribuir o carinho...
Esse post é uma homenagem, um agradecimento. Pelas geléias orgânicas, pelas balas pras meninas, pela rapadura orgânica, pelos palitinhos japoneses, pelas fotos, pelo paninho... É também para dizer que se tem uma pessoa nessa minha vida que me serve de inspiração, essa pessoa é ela. Inspiração de bom humor, de positivismo, de aceitação, de paciência.



Não postei as fotos das geléias antes, porque queria fazer alguma receita com elas e daí postar. Mas são tão boas que acabamos comendo puras, de colherada mesmo (aos poucos, com classe, calma, não foi na ignorância, não). As rapaduras quero usar numa receita sim, e acho que vou conseguir, porque foi rapadura pra caramba, hein, amiga? Tem coisa mais fofa que essas rapadurinhas aí?




E falando de amizades, quero aproveitar o post pra agradecer todas as pessoas que me acompanham, que mandam comentários através do blog ou do meu e-mail, que acham relevante o que faço. Saibam que é muito boa a sensação de ser útil!

19 de setembro de 2010

Crumble de frutas com vinho do Porto


Há alguns posts atrás mencionei a palavra crumble. Algumas pessoas me perguntaram o que era e eu respondi nos comentários, mas ainda não tinha postado nenhuma receita de crumble. Hoje a tarde choveu inesperadamente uma chuva grossa e fria, depois de uma manhã quente e abafada. A tarde combinava com um lanche aconchegante (já ouviram falar em "confort food"?). Como tinha acabado de comprar um vinho do Porto delicioso, achei interessante colocar as frutas pra marinar no vinho antes de colocá-las pra assar. Um crumble pode ter diversas variações. As frutas podem variar, a farofa pode conter castanhas, aveia, granola, dependendo do humor e do gosto de cada um. Basicamente eu uso maça, e para a farofa, só farinha de trigo, açúcar e manteiga. Hoje mudei tudo!

Não posso dizer que essa receita é um lanche para as crianças. Não tanto pelo vinho, porque o álcool se evapora no cozimento, mas sim pela quantidade de agrotóxicos que essas frutas podem conter em sua casca. Eu sei, eu sei... Então por que foi que eu escolhi justamente essas frutas pra fazer o prato? Nostalgia, pura nostalgia... Foi culpa da chuva!

Crumble de frutas com vinho do Porto

Ingredientes:

2 ameixas
1 pêssego
5 a 6 morangos
2 col. de sopa de vinho do Porto
2 cravos
1/3 de xícara de farinha de trigo
1/3 de xícara de aveia em flocos finos
1/3 de xícara de açúcar demerara
2 col. de sopa cheias de manteiga gelada

Como fiz:

Corte as frutas em pedaços. Disponha em uma travessa que vai ao forno e acrescente os cravos e o vinho do Porto. Reserve.



Prepare a farofa: misture a farinha de trigo, a aveia e o açúcar. Acrescente a manteiga em pedaços e misture tudo com as mãos até formar uma farofa grossa, assim:



Disponha a farofa por cima das frutas:


E asse em forno pré-aquecido a 180° C por 40 minutos ou até dourar:


Coma só um pouquinho, se conseguir...




15 de setembro de 2010

Bolo de macaxeira, sim, porque mandioca só serve pra fazer farinha!


Como falei antes, uma das melhores coisas de trabalhar no interior é a oportunidade de se obter produtos agrícolas direto com agricultores familiares. Outro dia comprei 5 quilos de macaxeira de um colega de trabalho que também é agricultor. Resultado: deu bolo de macaxeira no final de semana. Aqui cabe um parêntese. Já está claro que vivo fazendo bolos. É que bolo pra mim é lar. Fazer um bolo em casa, e comê-lo ainda morno saindo do forno (não dá dor de barriga, não) é um dos maiores confortos que tenho na vida. É alimento pro corpo e pra alma. Me lembra minha mãe, na cozinha, fazendo bolo pro lanche...
Mas, voltado ao bolo de macaxeira, como sempre, procurei uma receita na internet e achei uma no blog "Feito em casa". Fiz a receita adaptada, claro. Pra começo de conversa, a receita original pedia 650 gramas de açúcar e só de pensar no que daria fico arrepiada... Coloquei 400 gramas e já achei bem doce. A receita também previa um caramelo a ser feito na forma do bolo, como aquele que fazemos em um pudim. Ou seja, mais açúcar. Também pedia 250 gramas de manteiga, e também achei demais, então coloquei apenas 200 gramas. O bolo ficou divino, molhadinho, com pedaços de macaxeira e de coco macios dentro da massa. Desculpa aí, "Feito em casa"...



O melhor desse bolo é que não prevê a utilização de leite nem de leite condensado, e fica muito gostoso mesmo. Da próxima vez vou fazer em forminhas, pras meninas levarem de lanche na escola ("cupcakes" de macaxeira, très chiq!). Vejam aí a receita:

Ingredientes:

1 kg de macaxeira ralada
200 g manteiga derretida
1 coco seco grande ralado
400g açúcar cristal
5 ovos ligeiramente batidos

Como fiz:

Bata aproximadamente um terço do coco ralado com um pouco de água quente e misture tudo com o resto do coco ralado, a macaxeira e o açúcar.
Bata os ovos ligeiramente com um fouet (desculpem, batedor de arame) e acrescente a manteiga derretida. Incorpore essa mistura à mistura de macaxeira e coco e coloque a massa numa forma untada (usei uma de buraco no meio).
Asse em forno pré-aquecido a 200° por 50 minutos a uma hora.


14 de setembro de 2010

Para as amigas chiques


Queridos leitores... Hum, parece que tenho muitos, né? Mas enfim, queridos alguns leitores que me acompanham nesse blog,

Como diria a Alcione, não vou deixar o samba morrer. Esse querido blog anda cheio de teias de aranha, mas eu não desisti, eu avisei que não desistiria. Já faço planos pra minha aposentadoria, e um deles é postar pelo menos uma receita por semana nesse blog querido. Enquanto isso não acontece, vou postando quando dá, ok? Paciência...
Pensando nas minhas amigas finas de BSB, que vão ao SPA e se reúnem no local mais chique do planeta (aquele francês da Asa Norte que não vou dizer o nome pra não parecer propaganda barata), hoje fiz para o almoço uma receitinha que é das minhas preferidas. Uma versão chique, muito chique, do nosso feijão-com-arroz de cada dia. Cuscus marroquino com grão de bico. O que tem a ver com feijão-com-arroz? Vamos lá... O grão de bico é uma leguminosa, portanto equivale ao feijão. O cuscus marroquino é feito de trigo, então é um cereal, equivalente ao arroz. E o que é igual a leguminosa + cereal? O quê? Aminoácidos complementares que podem até substituir a carne numa refeição. Eu sei, eu sei... esse negócio de substituir a carne por arroz com feijão não entra na cabeça, então, por isso, fiz também um franguinho, e o todo ficou assim:



Apesar da finesse do prato, é muito simples de fazer. Eu preparo tudo separadamente e sirvo tudo junto.

Para o grão de bico:

Coloque de molho durante a noite uma xícara de grão de bico. No dia seguinte, escorra a água do grão de bico e cozinhe na panela de pressão por meia hora com bastante água e uma folha de louro. Depois de cozido, refogue cebola, alho, bacon (sim, sim, um pouquinho, vai, sem preconceito), pimentão, tomate, tudo picadinho. Vá acrescentando o grão de bico com um pouco do caldo do cozimento até colocar todo o grão de bico na panela. Deixe engrossar o caldo um pouco, tempere com sal a gosto e desligue o fogo.

Para o frango:

Naquela etapa em que o grão de bico está na panela de pressão, prepare o frango. Refogue cebola e alho picados no azeite. Acrescente coxas e sobrecoxas de frango ao refogado e deixe na panela até dourar, virando de vez em quando. Quando o frango estiver dourado, polvilhe-o com farinha de trigo e mexa bem na panela. Coloque um pouco de água ou caldo de frango (caseiro, por misericórdia...), um pouco de extrato de tomate e tampe a panela. Deixe o frango ficar macio, coloque sal a gosto, desligue o fogo e reserve.

Para o cuscus marroquino:

Coloque duas xícaras de água para ferver (eu usei caldo de frango caseiro, que faço assim, mas você pode usar água mesmo) com um fio de óleo. Quando a água ferver, desligue o fogo e coloque uma xícara de cuscus marroquino* na água. Mexa um pouco e deixe descansar por pelo menos meia hora, até os grãos incharem e a água ser toda absorvida. Enquanto isso você poder tomar um banho, ligar para uma amiga ou simplesmente fazer uma máscara de beleza. Depois do tempo de descanso, acrescente duas colheres de sobremesa de manteiga e sal no cuscus e mexa bem, até a manteiga derreter e os grãos de cuscus se soltarem.



Para servir, é só colocar tudo juntinho no prato e pronto. É de comer sem culpa, se achando super saudável e chique! As minhas meninas adoram!




* Aqui em João Pessoa a gente pode encontrar o cuscus marroquino pra vender nos supermercados mais caros, se é que vocês me entendem...