21 de abril de 2011

Creme de chocolate


Vocês conhecem aqueles potinhos de creme de chocolate industrializados, não conhecem? Quando eu era criança passava uma propaganda na televisão que mostrava várias pessoas jogando as colherinhas pro alto e comendo o creme com os dedos... Provavemente vários de vocês lembram ;). Eu ficava morrendo de vontade de comer aquele creme, que me parecia o supra-sumo da cremosidade e do sabor de chocolate, só de ver aquelas pessoas enlouquecidas jogando as colherinhas para o alto e engolindo o creme com os dedos! Ah, o poder da propaganda... Mas certamente, meu desejo era enorme por um outro motivo: minha mãe NUNCA comprava aqueles potes de creme! Comida industrializada praticamente não entrava na minha casa, se bem que há 25 anos atrás, numa cidade não tão grande como a minha, a oferta era bemmmmm menor, certo? Não havia milhares de tipos de biscoitos, era cream cracker (que aqui a gente chama de bolacha, e não biscoito), maisena, maria e biscoito recheado de chocolate. Me lembro quando lançaram o biscoito negresco, caramba, foi revolucionário! Minha mãe fazia biscoitos, e comprava cream craker, no máximo. Salgadinhos? Era só o fandango e uma rosquinha com gosto de cebola (cebolitos? Alguem aí lembra o nome?), e eu só comia escondido, na casa dos outros. Não havia as centenas de bolinhos, barrinhas, chocolates, balinhas, bombons, etc, que existem agora. Minha mãe comprava uma caixa de chocolate da garoto e escondia no armário dela. Liberava UM bombom, esporadicamente, depois de muita insistência e de um belo prato de almoço. Refrigerante? Não comprava, nem sob tortura. Claro que quando eu era pequena, achava todo esse racionamento uma verdadeira barreira intransponível às coisas boas do mundo (ou pra falar mais infantilmente, uma chatisse, uma injustiça!).
Hoje, eu sou mãe. Posso dizer que herdei os bons hábitos, mas confesso que tenho que ser mais chata que minha mãe, pois minhas filhas são submetidas a muito mais opções, estímulos e ocasiões de comer porcaria que quando eu era criança. Minhas filhas estudam numa escola em que as crianças levam o lanche de casa e me entristece observar que poucos pais se preocuparem efetivamente com a alimentação dos filhos. E no meio de um mar de salgadinho e biscoito recheado, é uma verdadeira guerra convencer uma criança de 5 anos a comer fruta... Mas eu luto, luto, e não desisto. Sei que a desculpa pra aqueles pais é o tempo, mas tem coisa mais rápida que lavar uma fruta?
Acho que o verdadeiro problema está no embate. Existe uma inclinação natural do ser humano para os alimentos mais energéticos, é biológico. Consolidamos essa característica em anos e anos de evolução da espécie, pois os alimentos mais calóricos são aqueles que podem garantir uma maior sustentação energética do corpo por mais tempo (caso o alimento venha a se tornar escasso no meio em que vivemos). Sendo assim, uma criança, desprovida de senso crítico em relação ao que faz ou não faz mal à saúde, entre uma fruta e um biscoito recheado, vai escolher o quê? Não é difícil responder... Não é só uma questão de gosto, mas de quantidade de açúcar, entende? Não é mais rápido abrir um pacote de batata frita, só é mais cômodo. Não é preciso justificar por que queremos que a criança coma aquilo, que faz bem pra pele, pro cabelo, que deixa inteligente, etc, etc, etc. Muita gente precisa evitar ao máximo contrariar um filho. Que necessidade é essa de gratificar (com brinquedos, guloseimas) as crianças o tempo todo? Que sentimento de culpa exagerado é esse que sentimos o tempo todo, que precisamos compensar com agrados materiais?
Antes que vocês achem que eu sou uma verdadeira radical, saibam que não sou. Libero guloseimas no final de semana, com moderação. Mas busco sempre ensinar que a gente pode sim, comer "laminha" (apelido aqui de casa pra falar de guloseimas), mas esse tipo de comida é pra ser comido em ocasiões específicas, pra variar o cardápio e não como hábito diário. Tenho a esperança que o exemplo vai ficar gravado na cabecinha delas e quando crescerem e forem donas do prório nariz, aptas a escolherem o que vão comer, escolherão comida de verdade.

Esse creme é minha versão para o potinho industrializado. É bem rápido, e tem aceitação garantida, pois leva bastante chocolate.


Creme caseiro de chocolate

Ingredientes:

200g de chocolate sem leite
4 xícaras de leite de soja (eu usei o leite não adoçado)
2 col. (sopa) de maizena
Açúcar a gosto (eu não usei, mas minhas meninas preferem com açúcar...)

Como fazer:

Corte o chocolate em pedaços pequenos. Coloque o chocolate numa panelinha com três xícaras de leite e leve ao fogo baixo, mexendo de vez em quando. Enquanto o chocolate não derrete completamente, misture a maizena à xícara de leite restante. Quando o chocolate derreter, incorpore o leite misturado com maizena e vá misturando até engrossar. Não precisa deixar engrossar muito, pois o creme fica mais espesso depois de frio. Coloque em potinhos de sobremesa ou ramequins, espere esfriar e leve à geladeira por quatro horas antes de servir.

Excelente sobremesa para um almoço de Páscoa!

5 comentários:

  1. Tout ce que tu dis est très très intéressant ( et si vous avez toi et ton frère de très bonnes dents c'est bien grâce à la persévérance de votre mère qui n'a jamais abandonné le combat contre les maudites sucreries industrielles ;-) ) et j'admire beaucoup ton tempérament qui reste vigilant contre les tentations multiples tout en conservant une certaine souplesse ... Bravo !
    *
    Tata Clau

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  2. ai, ai! estou aqui a pensar que tipo de mãe sou?
    Como era mais fácil convencê-los quando crianças(bem pequenas).. Hoje dar uma preguiça contestar o tempo todo.
    Mas aqui em casa não entra biscoito recheado!
    Não sei porque meu filho de 11 adora bolacha cream cracker !!!
    Vou fazer o creme caseiro(tirando o leite de soja)acho mesmo uma boa pedida para esses tempos.

    beijo Marina.

    PS: Feliz Páscoa!

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  3. Márcia, desculpe se lhe deixei confusa, ahahahh! Mas é para reflexão mesmo! Beijos, bom feriado!

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  4. Tata Clo, alors là, je suis VRAIMENT épatée! Tu as tout compris, c´est super! Il faudrai qu´un de ces quatre tu viennes connaître tes petites filles/nièces au Brésil, hein?

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  5. Bah...j'ai compris les grandes lignes et déduis d'elles le reste ;-)) Alors pour venir ( aller ) au Brésil, demain je peux pas, je suis prise, après-demain je peux pas non plus ...disons après- après- demain, à moins que cela ne tombe mal puisque ça ne coïncide pas avec vos vacances ... mince alors ! ;-)))

    Tata Clo

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